Quando o escavaram, encontraram-no cheio de ossos queimados espalhados, oferendas rituais de um tipo que mais tarde seria feito a Jeová e que a Bíblia chama de ôlah — da qual deriva a palavra "holocausto", por intermédio do grego. Como afirmam ambas, a arqueologia e a Bíblia, pedras entalhadas que continham as presenças dos deuses eram, com freqüência, colocadas sobre esses altares. Embora os livros do Antigo Testamento registrem amiúde a destruição desses santuários por profetas devotos e reis virtuosos, Israel nunca se livrou dessas formas sagradas e desses deuses antigos, que devem ter parecido tão primitivos quanto a própria região.
Contrariando o relato bíblico de que um feroz exército israelita destruiu as antigas cidades pecaminosas de Canaã e no lugar delas estabeleceu uma nova fé e uma nova nação, a arqueologia demonstra que, na realidade, a mudança entre a Palestina da Idade do Bronze e a do Ferro foi uma transformação gradativa, na qual as formas tradicionais de culto foram mantidas, como poderosas expressões do relacionamento dos homens com o sagrado, quer este fosse o Jeová bíblico quer os deuses antigos de Canaã.
Naturalmente, sem essa continuidade básica, poucos teriam reconhecido a divindade do novo deus de Israel. Assim, embora a Bíblia enfatize a originalidade, a singularidade de Jeová, a arqueologia mostra que eram insignificantes as diferenças entre o ritual bíblico de sua fé e o antigo culto de Canaã — e, sem dúvida, foi por isso que os profetas atacaram com tanto vigor os deuses antigos, século após século, a fim de que a nova fé não fosse absorvida pelos costumes antigos. Se não fosse pelo modo violento como a Bíblia repudiou os cananeus, teria sido difícil para os arqueólogos reconhecer que as ruínas das cidades da Idade do Ferro, situadas em cima das cidades de Canaã da Idade do Bronze, eram apenas suas sucessoras naturais. Por ironia, essa veemente oposição à cultura e à fé cananéias, que a Bíblia expressa muitas vezes em regras e proibições sagradas que abrangem todos os aspectos da vida cotidiana, deixou um legado cananeu não premeditado: aquela espécie de negação de religiosidade adotada com tanta ingenuidade por necromantes e seguidores do ocultismo.
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