A igreja passa hoje por duas crises extremas e antagônicas relacionadas à autoridade e à obediência. No que lembra um cabo de guerra, muitos defensores ou detentores da autoridade exigem obediência cega, mas encontram resistência forte na outra ponta por parte de pessoas que, por uma série de fatores, não conseguem encontrar descanso ou alegria neste tipo de governo.
Ainda assim, inúmeros líderes maduros e respeitados no Brasil e no exterior, continuam a acreditar e aplicar o princípio de autoridade em suas vidas e na dos discípulos. Estão certos de que se às vezes não é tão bom viver debaixo de autoridade, pior seria tentar viver a vida cristã sem o que chamam de "cobertura espiritual".
"No mundo, na sociedade, em todos os organismos e instituições há autoridade e submissão. Mas quando chegamos à igreja encontramos muita oposição. Aparecem pessoas dizendo que não, que somos todos iguais... O fato é que ainda que haja mau uso da autoridade isto não a anula" , afirma Jorge Himitian, pastor e escritor argentino.
Christian Romo, pastor chileno, concorda com Himitian e acrescenta: "A autoridade vem de Deus. Ele é a autoridade por excelência. E assim como o governo de Deus é eterno sua autoridade também o é". A autoridade de Deus é absoluta, lembra Christian Romo. E acrescenta que não está falando de uma autoridade militarista, mas de um pai relacionando-se com sua família. "É bem diferente de um ditador".
A dificuldade que alguns apresentam em relação a submeter-se à autoridade está relacionada à sua própria dificuldade, acredita Christian Romo. Ele está seguro que muitos não reconhecem a autoridade porque têm um problema em seu coração.
Veja alguns pensamentos e conceitos a respeito de autoridade e submissão defendidos por Jorge Himitian (Buenos Aires), Christian Romo (Concepción) e pelos pastores brasileiros Jan Gottfridsson (Porto Alegre, RS), Ademir Ifanger (Valinhos, SP), Abílio Chagas (Bauru, SP) Rubens de Oliveira (Piracicaba, SP) e Sérgio Franco (RJ).
Jorge Himitian
Quando o Senhor nos visitou com o Espírito Santo na Argentina, em 1967, fomos levados a enfatizar primeiramente o batismo no Espírito Santo. Mas no segundo ano, 1968, à medida em que estudávamos a Bíblia, outros temas mexeram conosco. Destes, os principais foram o evangelho do reino e o discipulado. E, dentro destes dois temas, vimos que era fundamental compreender o assunto de autoridade e submissão, sobretudo porque a ênfase do que Deus nos falava era que Jesus é o Senhor. E como Senhor, ele é quem manda e nós, como servos, o obedecemos.
Então nós, os pastores e discipuladores, começamos a buscar na Palavra de Deus os princípios de autoridade e submissão. Para começar, procuramos nos abrir a estes temas, porque muita vezes vemos assuntos como esses com preconceito.
Compreendemos na Palavra que o Senhor estabeleceu na igreja diferentes ministérios. Aprendemos então que ministério significa serviço, mas para exercê-lo é preciso ter autoridade -a autoridade que vem de Deus.
É impossível edificar uma vida se ela não estiver debaixo de autoridade. Para se edificar as vidas é necessário que haja na igreja autoridade espiritual e submissão. Paulo, sendo apóstolo, tinha autoridade sobre outros ministérios, com instruções específicas a eles. Quando havia um fornicário na igreja, mandava que expulsassem o tal, em nome de Jesus.
A igreja tem diferentes funções e diferentes níveis de autoridade e submissão. O pai é autoridade sobre os filhos para o bem dos filhos. Assim também deve ser na igreja.
O uso da autoridade tem, entretanto, seus perigos. Pedro alerta sobre isso na sua primeira carta, capítulo 5. Disse aos presbíteros que apascentassem o rebanho não como dominadores, mas como exemplo.
Descobrimos na Argentina que quando alguns abusos de autoridade acontecem, em geral é porque a pessoa está fazendo a sua vontade e não a Deus.
Christian Romo
Paulo diz que não há autoridade que não proceda de Deus. Portanto, nenhum de nós tem autoridade própria. Toda autoridade é delegada: como marido, pai, chefe, patrão. A autoridade é reconhecida, não imposta. Quando é imposta, cria-se uma situação esquisita, incoerente.
Mas quando Deus levanta alguém ali há um sentido espiritual claro. Porque com a autoridade vem a graça e o dom e isto faz com que esta autoridade não seja pesada.
A autoridade que Jesus possuía era abrangente. Ele tinha autoridade pelo que era. Não há verdadeira autoridade sem coerência de vida.
A autoridade não está no tom de voz, se falamos alto, se batemos na mesa. Mas é reflexo da vida de Cristo em nós.
Jesus disse: "Os governantes se assenhoreiam uns dos outros, mas entre vós não será assim. Antes, o que quer ser maior que sirva". O princípio sempre foi o serviço.
Estamos em uma sociedade cada vez mais resistente à autoridade. Cada vez mais é difícil para o mundo ouvir a palavra do reino, porque acham que o relativismo domina o pensamento. Não temos que recuar diante do pensamento do mundo. A autoridade de Deus continua a ser absoluta e será para sempre.
Submissão é uma bênção. É sinônimo de proteção. Submissão é uma atitude. Obediência é um ato. Você obedece porque tem uma atitude. Temos entendido durante estes anos todos que enquanto estivermos submissos uns aos outros vamos estar protegidos e o Senhor tem nos livrado de perigos. Não temos andado como um cavaleiro solitário. Todo o que anda sozinho corre perigo.
Jan Gottfridsson
No final da década de 80 e início de 90, tivemos experiências difíceis em Porto Alegre em relação a alguns abusos da parte dos discipuladores. Mas isto acabou transformado em bênção para a igreja porque nos levou a buscar a Deus para que ele corrigisse nosso percurso.
Em razão dos muitos erros que havíamos cometidos, tivemos a tentação de jogar tudo fora, jogar a banheira com água suja e a criança juntos. Muitos acabam fazendo isso, com medo de passar dos limites, jogam tudo fora. Mas não fizemos assim. Não temos liberdade de ir ou não ir. Jogar fora todo princípio de autoridade gera anarquia. É tão perigoso quanto o outro extremo.
Ademir Ifanger
Ainda que o perigo do abuso da autoridade seja real, o da falta dela também é um problema que merece reflexão. Se não houver autoridade os princípios da obediência, submissão e cooperação são anulados.
Por outro lado, é papel da autoridade também incentivar, mobilizar, fazer a articulação dos relacionamentos e ações para que todos cheguemos à maturidade descrita em Efésios 4:13. A vida da igreja precisa ser de cooperação vinculada (Efésios 4:15-16).
Abílio Chagas
Há muitos abusos. Um deles é falar o que Deus não falou. A pessoa diz Deus falou, você percebe que Deus não falou, mas obedece por causa da autoridade. Isso causa um estrago terrível na vida da pessoa e da igreja.
A submissão à autoridade é espontânea. É importante saber a diferença entre obediência, que é relativa, e submissão, que é absoluta.
Desobediência é conduta. Rebeldia é princípio de Satanás. A rebeldia de Satanás foi expressa nessa competição com a autoridade. A insubmissão é o pecado que leva aos demais.
Rubens de Oliveira
Precisamos entender a diferença entre autoridade constituída e a autoridade de fato. Não podemos apenas ostentar a autoridade terrena. Precisamos de autoridade espiritual. E isso só encontramos em Deus, no contato vivo com ele.
Submissão é uma missão de apoio. Para que a igreja desenvolva sua missão os membros precisam se submeter uns aos outros.
Sérgio Franco
A verdadeira autoridade é a que vem de Deus. Existem elementos que estabelecem a autoridade espiritual. Nem todo mundo que tem autoridade espiritual está incluído na religião. Precisamos estar atentos para discernir isto e não nos fecharmos a uma palavra autorizada de Deus apenas porque ela não está vindo do que acreditamos serem os canais competentes para isso. João Batista não chegou pregando pelos canais competentes da época e era a palavra de autoridade para aquele tempo.
Homens devem ser reconhecidos não por habilidades mas pelo testemunho. Infelizmente há homens que estão em autoridade mas sem poder. São coisas que infelizmente comprometem toda a igreja.
Jorge Himitian
Os exageros no exercício da autoridade verificados no auge do movimento de discipulado levaram os líderes argentinos limitar o uso da autoridade por parte dos discipuladores.
Ensinamos que os líderes maduros e experientes devem corrigir e vigiar seus outros líderes para que o discípulo não seja manipulado pelo discipulador. Ensinamos ainda que qualquer irmão tem acesso a qualquer pastor na comunidade - não há hierarquia. Afinal, somos todos irmãos.
por Luiz Montanini e Ezequiel Netto
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